Crises, além de estragos e prejuízos, sempre trazem novos começos.
De repente, há uma porção de artigos, relatos e entrevistas anunciando um novo florescimento para a educação. É um momento oportuno para se ponderar sobre o modelo de transmissão de conhecimento, ao qual a escola se agarra.
O isolamento social obrigou as instituições ao “ensino à distância”. E foi o que aconteceu: professores tornaram-se youtubers e, estudantes, consumidores de horas de tela que contabilizam presença.
Ou seja, a dinâmica permaneceu. Se considerarmos uma sala de aula, a “distância” já estava ali, nas crianças enfileiradas, sentadas por 50 minutos, consumindo uma aula genérica ou realizando provas.
Educação pós-pandemia
As formas como uma pessoa adquire conhecimento são únicas, pois valem-se de repertório, vontade, sentimento, habilidade individual e tempo próprio.
Pretender que crianças aprendam a mesma coisa, ao mesmo tempo, e da mesma forma é conduzir o aprendizado pelo caminho do fracasso e da frustração.
O que é comum a todos, porém, é a observação, a análise, o reconhecimento de padrões e a organização de informações. Neste sentido, a escola deve possibilitar que as crianças realizem suas descobertas personalizadamente, de forma que estabeleçam sentido e transformem tudo em conhecimento.
É por isso também que a educação infantil não está pautada em conteúdos, mas no desenvolvimento, na interação e em brincadeiras.
As atividades têm que ser concebidas com a criança como protagonista, nunca como uma consumidora passiva.
Por essas razões não produzimos vídeo-aulas, mas propostas de trabalho. E junto com elas, queremos oferecer mais estas contribuições:
Está tudo bem
- As famílias precisam se sentir apoiadas
A educação é uma responsabilidade compartilhada entre as famílias e a instituição. Em um momento inesperado de calamidade, coube aos pais a tutela das crianças em tempo integral, ao mesmo tempo em que cuidam de seus trabalhos e afazeres. Isso tudo deve ser levado em consideração para que a educação não se torne um peso e nem uma culpa.
O aprendizado acontece ao longo da vida. E sempre haverá uma equipe de professores e gestão dando suporte. Neste momento, é mais importante manter a saúde física e emocional.
- Que seja um momento de brincadeira, de arte
Deixar as crianças criarem livremente, se possível, com materiais de artes, tinta, massinha, terra, papéis, elementos que as ajudem a se expressar.
- Escutar as crianças, que podem estar inseguras, ansiosas
Mais importante do que a cobrança neste momento, é o amparo. Um grande artifício pedagógico é fazer perguntas: o que você está fazendo? Como está se sentindo? Como você descobriu isso? Para que você está fazendo isso?
- Registro: escrever com a criança o que ela gostou de fazer, o que aprendeu
As crianças aprendem a todo momento. Para que haja avaliação e diagnóstico pedagógico, o registro é importante. Isso pode acontecer de forma muito simples, apenas tomando nota das perguntas acima.
- Atividades domésticas: ajudante do dia
Se arrumar o quarto de uma criança é trabalhoso, fazê-la cooperar com a arrumação é ainda mais!
Mas crianças sentem-se importantes e gostam de cooperar. Eleja junto com os filhos uma pequena responsabilidade para o dia, que pode ser tirar o lixo, arrumar a cama, bater um bolo, etc. O humor vai melhorar.
- Tédio: todos vamos sentir
As crianças vão sentir tédio, assim como nós adultos. Permitir às crianças momentos para não fazer nada também é importante. No dia seguinte, tentamos novamente.
Ao fim de tudo, haverá um novo começo.

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